domingo, 7 de outubro de 2007

E 10 anos se passaram...

No baú das recordações recolhemos pedaços, verificamos o nosso crescimento e analisamos friamente tudo aquilo que, em tempos, nos atormentou, nos fez duvidar, desesperar, sorrir e ter esperança...

Em 1997, um ano após ter chegado a Lisboa e à Faculdade, vivi um período introspectivo e de análise do Eu e da relação com os outros e com o Mundo. Ao mesmo tempo que me sentia desabar na angústia da incerteza e do desconhecido, sentia renovar em mim a esperança de deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrara (como havia aprendido nas palavras de B.-P.). Como qualquer jovem de 19 anos, achava-me capaz das maiores audácias e conquistas e, ao mesmo tempo, temia o fracasso e chorava as injustiças do mundo que me rodeava.

Lisboa e a Faculdade de Letras tiveram um papel muito importante no meu novo ser - livre, independente, adulto. Foram o abrir de horizontes para um Mundo com uma escala muito maior do que aquela que conhecia até então. Se, por um lado, a grandeza, a multidão de rostos desconhecidos, o novo e a ausência de âncora familiar me deixaram perdida e com uma sensação claustrofóbica provocada pelo medo do fracasso e pela necessidade de integração e aceitação, por outro, as portas que aquele novo mundo me abria, o peso cultural e histórico, tanto da cidade como da instituição universitária que frequentava, impeliam-me a novos vôos e davam-me força e esperança renovada dia-a-dia nas minhas capacidades, alimentando a minha imaginação e os meus sonhos.

A música «I believe i can fly» de R. Kelly foi uma das músicas que me acompanhou durante esses primeiros anos e que serviu de fonte de inspiração e de refortalecimento quase diário.

Não sendo páginas de diário, os textos intimistas que se seguem reflectem um pouco daquilo que, na altura, me ia na alma, que me atormentava e que, ao mesmo tempo, alimentava as minhas forças. Eram o catalisador da minha mente e permitiam-me reorganizar os meus pensamentos e reencontrar-me no turbilhão das novas experiências e realidades.


Pombal, 28 de Novembro de 1997

No alto do monte

"Subi ao alto monte, pensei que ía cair e desejei ganhar asas e voar alto, bem alto. Desejei ganhar asas para fugir ao abismo que tão perto estava, que me puxava e que tentava a todo o custo sugar a minha alma.

Tentei deseperadamente escapar às malhas do destino que me levava tão rapidamente para a morte.

E uma ave branca como a neve deu-me esperança e força e coragem. E lutei, lutei, lutei contra o sofrimento. E a ave sorriu para mim e olhou-me profundamente nos olhos e falou. Disse-me palavras calmas e meigas, disse-me que iria vencer sobre este mar de sofrimentos e agonias a partir do momento em que sentisse crescer o amor, o amor dentro de mim.

Soube então que era Deus que me incitava a seguir em frente e me dava ânimo para resistir e para lutar. Soube que era o meu Deus que me ama e de quem sou filha.

Senti-me leve, abri os braços e acreditei que o meu Deus não iria permitir que eu caisse se me lançasse no abismo negro. Saltei e senti que voava, era o meu Deus, aquela ave branca, que me amparava."

Pombal, 4 de Dezembro de 1997

Viver?!... Ou Morrer?!

"Muitas vezes nos perguntamos se vale ou não a pena viver. Muitas são as vezes em que a resposta é positiva, muitas em que é negativa. Não sabemos muito bem porque existimos. Não sabemos a razão pela qual temos consciência e inteligência.

Por isso, para justificar os nossos medos e para explicar o que desconhecemos, criámos Deus. Ou será que foi ele quem nos criou a nós? As Antigas Escrituras dizem que foi Deus quem nos criou, mas não terão sido os antigos homens a escrever uma fantasia sobre um Deus que pode nem existir? Será que este Deus não é o nosso inconsciente a dar-nos ânimo e esperança? Será que não é o nosso inconsciente que nos faz acreditar num Deus, que somos todos nós? Não sei. Não sei se é ou não o meu inconsciente que me faz acreditar em Deus. Só sei que creio em Deus e que é a ele que vou buscar forças para jogar este jogo que é a vida.

Por vezes desanimo e só me apetece desistir, mas há sempre uma força interior que me faz deixar de ser egoísta e me leva a pensar no sofrimento que a minha partida iria provocar em muita gente; e é esta força que, paradoxalmente, me faz ser egoísta e me leva a pensar em tudo o que ainda tenho que viver e fazer.

Sei que nem tudo é mau e que se acreditarmos em nós mesmos e nas nossas potencialidades, seremos capazes de fazer tudo o que quisermos. Sei que, no fundo, a base de tudo é o Amor. O Amor pelos nossos amigos e familiares, o Amor pelos nossos companheiros, amantes e confidentes, o Amor pela Natureza, pelo Sol, pelo Mar e por todo o Universo, o Amor por nós próprios e por tudo o que somos, temos e representamos.

S. Paulo disse no capítulo 13º da 2ª Epístula aos Coríntios que o mais importante é o Amor. Segundo S. paulo, podemos ter todos os conhecimentos do mundo, podemos saber todas as línguas dos Homens, mas se não tivermos Amor, estes conhecimentos não nos servem de nada.

Será que sei amar? Será que conheço o verdadeiro sentido e a verdadeira essência deste sentimento? Não sei. Mas sei que amo com todas as minhas forças, sei que, mesmo correndo o risco de desconhecer a verdadeira acepção do Amor, amo. Amo as árvores, os pássaros, os Homens, o mar, o sol. Amo desde o mais insignificante bicho, ao mais importante dos Homens. Sei que amo.

Amar é um dom que é inerente a todos os seres. É pena que nem todos os Homens o saibam utilizar, dar e receber. Tenho esperança que um dia todos os Homens conheçam a verdade do Amor. Tenho esperrança que um dia todos os Homens aprendam a Amar e a ser amados."

Cátia Inácio

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