sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Nos recantos da memória...

Escondidos algures nos recantos da minha memória, em cadernos poeirentos de outros tempos, encontro os pensamentos de alguém que, na sua inconsciente inocência ou louca fantasia, julgou ser capaz de definir, em quatro partes, alguns paradigmas da Humanidade, conceitos (ou preconceitos?) muito maiores que a sua pequenez pueril. E são esses pensamentos, da que então se rebaptizara Cátia Inácio (aquilo que julgava ser o seu alter ego literário. Oh! doce arrogância dos ignorantes) que aqui transponho e partilho. Julgue-os quem poder ou souber...

ENSAIOS SOBRE...

(Parte I: Lisboa, 8 de Abril de 1997)

O que é a Vida?

Um vendaval de emoções recônditas e fora de tempo e lugar. Ou talvez, quiçá, um conjunto desconhecido de ambições revoltantes e ambíguas, prostradas num altar de fantasias angustiantes.

O que é a Vida?

Uma maré de clamaria e um turbilhão de saudades inquietas e belicamente sós.

Serei eu e toda a gente reunidos num viver sem nome nem idade, juntos em comunhão com a natureza e o amor? Não sei, recuso-me a saber de tal facto. E reconheço, com um brilho de tristeza nos olhos, que esse mundo de união não existe, é irreal.

O que é a Vida?

Somos todos nós. Somos todos nós com os anjos (angelicais e demoníacos), com o Diabo e com Deus.

(Parte II: Lisboa, 10 de Abril de 1997)

O que são os Sentimentos?

São talvez emoções inconstantes e irrequietas, que nos tentam saltar do peito eufórica e descontroladamente.

São aves de rapina tentando alcançar a sua presa.

São o mar e o céu unidos inequivocamente numa imensidão de nada.

O que são os Sentimentos?

São a vida e a morte que se separam e reúnem como dois corpos celestes.

São um misto explosivo de ecos.

O que são os Sentimentos?

São a vida dentro de nós. E são a morte de todos os seres que são gente e que estão sós.

(Parte III: Lisboa, 11 de Abril de 1997)

O que é o Amor?

É uma angústia consoladora que nos habita e que nos é desconhecida.

É o viver desconsoladamente uma falsidade real e verdadeira.

O que é o Amor?

O Amor é poder olhar para o céu, para o mar, para todos os Homens e para toda a natureza e sentir um alívio relaxante que nos faz encher o peito de ar e suspirar.

O que é o Amor?

O Amor!? O Amor não existe e ao mesmo tempo é real. O Amor é tão complexo que se julga existir um verdadeiro. Mas esse Amor verdadeiro não existe.

O que é o Amor?

O Amor é sentir algo por alguém.

O Amor é carinho, é amizade, é fraternidade e amante.

O Amor sou eu e tu e toda a gente. O Amor... não é um sentimento, nem o sentimento... o Amor é todo o Universo.

(Parte IV: Lisboa, 12 de Abril de 1997)

O que é a Loucura?

A Loucura é a vida precoce de um ser faminto de liberdade. É a procura faminta de compaixão hipócrita e desonestamente fiel.

Loucura é um nada de um momento inconstante, sôfrego e violentamente irreal.

O que é a Loucura?

Loucura é a vida de um homem sem destino, é a morte do nosso maior amigo no início da jornada.

Loucura é tentar olhar para trás e nada encontrar. Loucura é chegar ao fim da vida e não ter realizado o nosso projecto tão desejado.

O que é a Loucura?

Loucura!? Loucura!? é ver-te sorrir tão docemente e saber que esse teu sorriso me magoa e entristece.

Cátia Inácio

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